segunda-feira, 23 de abril de 2012

Resenha de Livro: Em "As Esganadas", Jô Soares Segue Misturando História, Ficção e Comédia Policial.

Em seu mais novo livro, "As Esganadas", lançado pela Companhia das Letras, Jô Soares segue misturando fatos reais da História com ficção em um enredo de comédia policial, assim como fez com seus livros anteriores, "O Xangô de Baker Street", onde podiamos encontrar personagens reais como Sarah Bernhardt, com fictícios como Sherlock Holmes e ganhou uma versão para as telonas, "O Homem que Matou Getúlio Vargas" e "Assassinatos na Academia Brasileira de Letras". Se antes os alvos eram prostitutas, políticos e "imortais", agora são as obesas que correm perigo. Jô tem um estilo muito característico e reconhecível, ressaltando fatos conhecidos da história para dar maior visibilidade e entendimento ao que está sendo contado. Nesse novo livro, o serial killer é apresentado já no início da história e a razão pela qual ele comete atos bárbaros contra mulheres gordas também. Caronte é dono de luxuosa funerária no Rio de Janeiro, na década de 30. Na infância, tinha uma mãe obesa e extremamente controladora, a qual ele acaba matando e anos mais tarde enxerga em toda mulher gorda a figura da mãe, que controlava sua alimentação. A história é basicamente um retrato das loucuras e crimes de Caronte, com ênfase na maneira atrapalhada que polícia e investigadores tentam solucionar o crime, em especial o detetive Tobias Esteves. Apresentar o assassino já no início pode não ter sido um passo muito acertado do autor, já que Caronte não é o que se pode chamar de personagem interessante. Deixar o mistério para ser desvendado no final teria sido mais instigante. Com o humor que lhe é peculiar, Jô descreve cenas fortes de assassinato sem que isso choque o leitor, ao contrário, essas cenas são no mínimo curiosas e tratadas de forma bem leve, até demais acredito. O livro, porém, já conta com grande número de exemplares vendidos e, assim como os anteriores, já pode ser considerado um sucesso. Leitura despretensiosa e interessante, "As Esganadas" é mais um bom livro desse já consagrado autor.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Resenha de Disco: Blubell Lança Mão de Voz Incomum e Clima Retrô Como Diferencial.

Isabel Fontana Garcia, conhecida no meio musical como Blubell, iniciou sua carreira nas bandas Tobasco, Feira Livre e já participou de shows do Funk Como Le Gusta, além de usar sua voz para jingles de comerciais de televisão. Seu primeiro álbum, "Slow Motion Ballet" foi lançado em 2006 de forma independente e somente cinco anos depois ela colocou no mercado "Eu Sou do Tempo Em Que a Gente Se Telefonava", seu segundo disco, lançado pela Y Brasil que conta com um repertório parcialmente autoral. O Quarteto de Jazz "À Deriva" acompanha a cantora no disco que lança mão do clima retrô como diferencial, misturando pop com jazz na voz suave e um tanto quanto incomum da cantora paulista. Destaque do disco, a excelente "Chalala" foi tema de abertura da minissérie Aline, da Rede Globo. O clipe da música foi inspirado no "Subterranean Homesick Blues" de Bob Dylan e é bem interessante. Algumas músicas são cantadas em inglês, como é o caso de "Velvet Wonderland", música que nos remete à Bossa Nova e "Good Hearted Woman" que conta com a participação de Tulipa Ruiz, que está presente também em "Pessoa Normal" . Outra que faz participação no disco é Baby do Brasil em "1, 2, 3, 5". Lançado no Teatro do SESC em São Paulo em Janeiro de 2011, o disco possui um clima de Cabaret, que também esteve presente no show de lançamento. "Mão e Luva" e "Estrangeira" são outros destaques no disco de repertório afiado, capaz de dar visibilidade a essa criativa cantora e compositora.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Resenha de Disco: Banda "5 a Seco" Explora Novas Cenas Musicais Para Ouvidos Exigentes.

Grupo formado pelos jovens Leo Bianchini, Pedro Altério, Pedro Viáfora, Tó Brandileone e Vinicius Calderoni, "5 a Seco" começou timidamente, em pequenos shows, até que estouraram nas redes sociais e ganharam grandes proporções no meio musical, tudo através do famoso boca a boca, conquistando um público diversificado, mas nem por isso menos seleto. Alguns integrantes, como Tó Brandileone, já fizeram seus nomes em carreira solo. O som do grupo paulista é despretensioso, como uma brincadeira musical. Brincam com as vozes, com as composições, com as cordas. O primeiro DVD "Ao Vivo no Auditório Ibirapuera", lançado recentemente, ressalta a qualidade desses jovens artistas e conta com participações mais que especiais. Maria Gadú participa de "Em Paz" e Lenine em "Ou Não". No palco, 5 a Seco tece uma colcha de ritmos musicais com inspiração teatral e timbres únicos. O repertório conta com MPB, Samba de Raiz, Indie Rock e ainda passeia por ritmos nordestinos. Músicas como "Pra Você Dar o Nome", "Feliz Pra Cachorro" e "Vou Mandar Pastar" já são bem conhecidas do público indie. A bela "Gargalhadas", com letra linda e otimista, já cantada por Bruna Caram no seu disco "Feriado Pessoal", é outra música que cumpre o papel de dar luz e brilho ao repertório da banda. Modernos, 5 a Seco traz um novo frescor à música, de forma leve, com disco que pode e deve ser ouvido a qualquer hora do dia ou da noite. Em um país onde a mídia busca por melodias fáceis, banais e pouco inteligentes, o grupo se destaca, explorando novas possibilidades musicais para satisfazer os ouvidos exigentes.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Conselho Musical: Casuarina é a Raiz do Samba na Música Brasileira Atual.

Constantemente nos deparamos com as mídias caracterizando pagodeiros como sambistas. Há de se entender: samba é samba, pagode é pagode. O pagode romântico que infesta as rádios hoje em dia em nada pode ser comparado ao bom e velho samba. O Samba de Raiz é a expressão autêntica da cultura brasileira. O violão de sete cordas, o cavaquinho, o pandeiro de couro, a cuíca, o surdo, o tamborim, o bandolim, formando o samba de partido alto, o samba de terreiro, o samba dolente, sincopado e ritmado. Ao contrário dos grupos de pagode que hoje são exaltados por todo o Brasil, um verdadeiro grupo de samba se apresenta em sua forma mais pura. Trata-se de Casuarina, grupo com pouco mais de dez anos de carreira, formado pelos jovens cariocas, Daniel Montes (violão 7 cordas), João Cavalcanti (percussão e voz), Rafael Freire (cavaquinho), João Fernando (bandolim) e Gabriel Azevedo (voz e percussão). Com primeiro disco homônimo lançado em 2005 pela Biscoito Fino e "Certidão", segundo disco lançado em 2007, o Casuarina ganhou maiores projeções em 2009 ao gravar o MTV Apresenta Casuarina, lançado pela Sony Music, ao vivo no formato CD e DVD, repleto de grandes regravações como "Baile no Elite", "Swing de Campo Grande", "Canto de Ossanha" e "Cabelos Brancos", contando com participações de Frejat, Moska, Roberto Silva, entre outros. Esse disco, um marco na carreira do grupo, foi gravado na Fundição Progresso no Rio de Janeiro. O último trabalho, lançado em 2011 pela Warner Music, intitulado "Trilhos Terra Firme" é um disco autoral, com as músicas compostas pelos componentes do grupo, entre samba de gafieira (Dissimulata), samba de roda (Pequenino) e músicas que mantêm as tradições do samba carioca (Murmúrio, Fulô de Caju, Gravata). Com uma trajetória coesa, buscando resgatar a tradição do verdadeiro samba para os dias atuais, o Casuarina é a Raiz do Samba na música Brasileira e merece uma maior projeção. A cultura musical agradece.