terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Resenha de Filme: "Indomável Sonhadora" Mostra Que o Cinema Não Perdeu Sua Magia e Ainda é Capaz de Encantar.

Antes de começar exatamente a falar sobre o filme em questão é preciso fazer uma crítica. "Indomável Sonhadora", o título dado para "Beasts of the Southern Wild" no Brasil, é péssimo. Nem de longe traduz o espírito do filme e de sua protagonista. Aliás, "Indomável Sonhadora", o título, combina mais com um drama menor que faz carreira na "Sessão da Tarde" do que com a poesia desse filme. Aliás, ele é mais do que um filme, uma história para ser vista com pipoca e refrigerante ou acompanhar no fim de noite pela TV. Se é possível um filme ser mais do que um filme, ser a essência da existência humana, seria "Beasts of the Southern Wild". É um filme-sentimento, onde importa mais as sugestões, as sensações e as reflexões do que a história que se conta, ela é só o meio, o caminho, o exemplo e o que verdadeiramente importa é o que essa história desperta em cada espectador. Para entende-lo perfeitamente, é preciso vencer o distanciamento voyeristico típico do cinema e aceitar que você precisará entrar nesse universo, ser e sentir aqueles personagens de uma forma que nenhuma tecnologia 3D conseguiria. O filme conta a história de uma menina criada por um pai moribundo numa das regiões mais agressivas dos Estados Unidos, o estado de Louisiana, onde o passado escravagista e as condições naturais criaram um sistema de pobreza extrema e catástrofes que desabriga, mata e dificulta ainda mais a vida de sua população, como o Katrina mostrou para todo o mundo. A afinidade desse elenco de nada valeria se não fosse a força de Quvenzhané Wallis, atriz de 9 anos que não só dá conta do peso de sua personagem como dá aula de interpretação, tanto que foi indicada ao Oscar 2013 como "Melhor Atriz" e o filme ainda concorre nas categorias "Melhor Filme", "Melhor Diretor" e "Melhor Roteiro Adaptado". A direção segura, que mais se preocupa em sugerir do que mostrar, é mais um acerto e tanto. E o que a gente leva de Beasts of the Southern Wild? Que esse velhinho centenário chamado cinema não perdeu sua magia e que ainda encanta, emociona e assusta do mesmo jeito que fez quando aquele trem chegou à estação em um café em Paris, que a Humanidade é bela, sim, e em suas fraquezas, medos e defeitos e que vale a pena chorar vendo um filme.

Resenha escrita por Rafael Tavares.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

A Superioridade das Séries Britânicas.

A princípio, essa resenha seria sobre a nova série da BBC1, "Ripper Street", mas o catálogo de séries do Reino Unido é tão bom em qualidade que é impossível discorrer somente sobre uma delas e tive que abrir o leque para algumas produções inglesas. Os Estados Unidos é a capital das séries e exportam seus produtos para o mundo em maior quantidade; nesse quesito, o Reino Unido é, de certa forma, coadjuvante: exporta menos que os primeiros, mas o que sai de lá possui uma qualidade técnica infinitamente superior, além de muitos de seus programas servirem de base para a criação de versões americanas, como "Shameless" e "The Office", que nasceram na terra da Rainha. Talvez o seriado de maior sucesso seja "Doctor Who", que está há anos em cartaz e sempre se renova, sem perder público e adquirindo novos. Recentemente a série foi exibida na TV Cultura, mas "Doctor Who" de tanto sucesso além-mar já é clichê. Além dela, outras produções cruzam o Atlântico e merecem destaque, "Sherlock", por exemplo, adapta os contos de Sir Arthur Conan Doyle e nos apresenta seu personagem mais famoso, Sherlock Holmes, atuando em pleno século XXI. Prestes a estrear sua terceira e derradeira temporada, "Sherlock" é uma série curta, são 3 episódios por ano, mas com uma hora e meia cada um, funcionam como três filmes sobre o detetive mais famoso da História. Em comparação a (forçada) versão americana de Sherlock na América, Sherlock UK de tão primorosa vale cada minuto perdido. "Ripper Street" mantém esse padrão ao retratar o período histórico em que a Inglaterra era aterrorizada por Jack, o Estripador. A série começa, na verdade, depois de cinco meses sem um ataque do serial killer, o que coloca a população em estado de alerta a cada novo crime ocorrido. Mathew MacFadyen, o Mr. Darcy de "Orgulho e Preconceito", é um Inspetor que tenta manter a ordem e a paz à sombra do criminoso mais famoso do Reino Unido. Além delas, ainda há "Downtown Abbey", sobre uma aristocracia cambaleante e a ascensão da classe média. Mas, o que explica esse cuidado da TV britânica com suas produções? Talvez a própria história da TV no Reino Unido – que nasceu pública, com o intuito de educar, instruir, informar e cumprir um papel social – tenha feito com que o conteúdo tenha mais importância que a própria audiência. No final das contas, quem lucra é o telespectador, que tem entretenimento de qualidade garantida.

Resenha escrita por Rafael Tavares.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Resenha de Disco: Despretensiosamente, Colbie Caillat Faz Música Pop Sem Ser Descartável.

Não é necessário uma enorme potência vocal ou uma sensualidade exacerbada para se tornar uma cantora reverenciada por todos. Às vezes, o simples torna-se a receita ideal para o sucesso. Colbie Caillat é um exemplo de artista correta, charmosa, radiofônica e nem por isso menos talentosa. Seu terceiro álbum de inéditas, "All of You", se encarrega de mostrar toda a elegância presente em suas canções, a começar por "I Do", primeira e deliciosa música de trabalho que, assim como o clipe, é capaz de encher de alegria o coração mais fechado. As faixas tem uma ligação entre si, o que faz com que muitas vezes soem iguais, mas não chega a comprometer o disco. Considerada uma Jack Johnson de saia, Colbie canta música pop para adultos, com versos inteligentes e harmoniosos e as canções praianas com pitadas de surf music recheiam o álbum. Embora passeie entre músicas intimistas e outras mais ensolaradas, todas as faixas de "All of You" foram feitas para o sucesso radiofônico, mas não de forma descartável, pois a maneira despretensiosa com que Colbie nos apresenta seu trabalho apenas colabora para que possamos enxergar suas qualidades como cantora. O segundo single do disco, "Brighter Than The Sun", é um grande destaque do álbum, assim como "Shadow" e "Before I Let You Go", criando uma trilha sonora perfeita para ver o pôr do sol ou caminhar na praia. Bonita e talentosa, Colbie Caillat nos mostra que, com "All of You", já garantiu seu lugar no mercado musical.

Resenha escrita por André Ciribeli.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Resenha de Filme: "Frankenweenie", Animação de Tim Burton, Faz Referências ao Cinema B com Nostalgia e Criatividade.

Tim Burton é um dos maiores diretores da atualidade, dono de clássicos como "Peixe Grande" e "Edward Mãos de Tesoura". Ao lado da atriz Helena Bonham Carter e do ator Johnny Depp, filmes como "Sweeney Todd" e a regravação de "Alice no País das Maravilhas" imortalizaram o diretor como um grande ícone do cinema. Seus trabalhos sempre tendem para um lado mais sombrio, misterioso, usando do suspense para contar histórias originais e criativas. Em "Frankenweenie", seu último trabalho de animação, ele não deixa de fora essas suas características principais. O filme, em preto e branco, conta a história de Victor Frankenstein, garoto tímido que adora as aulas de ciência e tem o cachorro Sparky como seu melhor amigo. Quando um acidente mata o seu cão, ele, através de um experimento, consegue trazê-lo de volta à vida. Porém, quando sua experiência aparentemente bem sucedida é descoberta, os seus amigos da escola resolvem também ressuscitar outros animais, resultando em uma séries de acontecimentos desastrosos. O filme nos remete ao cinema B de décadas passadas e faz referências a grandes monstros cinematográficos, como Drácula, Frankenstein, Múmia, Homem-Invisível e Lobisomem, fazendo com que muitas vezes tudo soe nostálgico, embora seja um filme dirigido para as crianças de todas as idades. Tim Burton já mostrou seu talento para animação com o consagrado "A Noiva Cadáver", excelente filme ambientado na Inglaterra da Era Vitoriana. Embora com um final um tanto quanto óbvio, "Frankenweenie" concorre ao Oscar de melhor filme de animação e seria justa a sua vitória.

Resenha escrita por André Ciribeli.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Vencedores do Globo de Ouro 2013.

Aconteceu no último domingo, dia 13/01, o Golden Globe Awards, premiação que elege os melhores filmes, atores (a), diretores (a) e séries de TV do ano. O prêmio é considerado como o segundo mais importante, perdendo apenas para o Oscar em prestígio. Veja abaixo a lista de vencedores que levaram para casa o Globo de Ouro:

Melhor Filme Dramático
“Argo”

Melhor Filme de Comédia ou Musical
“Os Miseráveis”

Melhor ator Dramático
Daniel Day-Lewis, “Lincoln”

Melhor Atriz Dramática
Jessica Chastain, “A Hora Mais Escura”

Melhor Ator em Comédia ou Musical
Hugh Jackman, “Os Miseráveis”

Melhor Atriz em Comédia ou Musical
Jennifer Lawrence, “O Lado Bom da Vida”

Melhor Diretor Ben Affleck, “Argo”

Melhor Ator Coadjuvante
Christoph Waltz, “Django Livre”

Melhor Atriz Coadjuvante
Anne Hathaway, “Os Miseráveis”

Melhor Roteiro
Quentin Tarantino, “Django Livre”

Melhor Canção Original
“Skyfall”, de Adele, para o filme “007 – Operação Skyfall”

Melhor Animação
Valente

Melhor Filme Estrangeiro
“Amor”

Melhor Série Dramática
“Homeland”

Melhor Série de Comédia
“Girls”

Melhor Ator em Série Dramática
Damian Lewis, “Homeland”

Melhor Atriz em Série Dramática
Claire Danes, “Homeland”

Melhor Ator em Série de Comédia
Don Cheadle, “House of Lies”

Melhor Atriz em Série de Comédia
Lena Dunham, “Girls”

Melhor Ator em Minissérie ou Filme para TV
Kevin Costner, “Hatfields & McCoys”

Melhor Atriz em Minissérie ou Filme para TV  
Julianne Moore, “Game Change”

Melhot Ator Coadjuvante em Minissérie ou Filme para TV
Ed Harris, “Game Change”

Melhor Atriz Coajuvante em Minissérie ou Filme para TV
Maggie Smith, “Downton Abbey”

Melhor Minissérie ou Filme para TV
“Game Change”

Por André Ciribeli.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Indicados ao Oscar 2013.

Na manhã desta quinta-feira, dia 10, saiu a lista dos indicados ao Oscar 2013, cuja cerimônia será realizada no dia 24 de fevereiro. O grande destaque foi o filme "Lincoln", de Steven Spielberg, que teve 12 indicações. Veja os indicados em algumas categorias:

Filme
"Indomável sonhadora"
"O lado bom da vida"
"A hora mais escura"
"Lincoln"
"Os Miseráveis"
"As aventuras de Pi"
"Amor"
"Django livre"
"Argo"

Diretor
Michael Haneke ("Amor")
Benh Zeitlin ("Indomável sonhadora")
Ang Lee ("As aventuras de Pi")
Steven Spielberg ("Lincoln")
David O. Russell ("O lado bom da vida)

Ator
Daniel Day-Lewis ("Lincoln")
Denzel Washington ("Voo")
Hugh Jackman ("Os miseráveis")
Bradley Cooper ("O lado bom da vida")
Joaquin Phoenix ("O mestre")

Atriz
Naomi Watts ("O impossível")
Jessica Chastain ("A hora mais escura")
Jennifer Lawrence ("O lado bom da vida")
Emmanuelle Riva ("Amor")
Quvenzhané Wallis ("Indomável sonhadora")
 
Ator coadjuvante
Christoph Waltz ("Django livre")
Philip Seymour-Hoffman ("O mestre")
Robert De Niro ("O lado bom da vida")
Tommy Lee Jones ("Lincoln")
Alan Arkin ("Argo")

Atriz coadjuvante
Sally Field ("Lincoln")
Anne Hathaway ("Os miseráveis")
Jacki Weaver ("O lado bom da vida")
Helen Hunt ("The sessions")
Amy Adams ("O mestre")
 
Filme estrangeiro
"Amor" (Áustria)
"No" (Chile)
"War witch" (Canadá)
"A royal affair" (Dinamarca)
"Kon-tiki" (Noruega)

Roteiro original
Michael Haneke ("Amor")
Quentin Tarantino ("Django livre")
John Gatins ("Voo")
Wes Anderson e Roman Coppola ("Moonrise kingdom")
Mark Boal ("A hora mais escura")

Animação
"Valente"
"Frankenweenie"
"ParaNorman"
"Piratas pirados!"
"Detona Ralph"

Por André Ciribeli.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Resenha de Filme: "Compliance" Questiona a Vulnerabilidade Humana de Forma Extremamente Inteligente.

Estudando profundamente o comportamento humano em suas várias esferas, o diretor Craig Zobel partiu da pesquisa que a maioria das pessoas cometeriam atos que iriam contra seus princípios se os mesmos fossem ordenados por alguma autoridade, para realizar "Compliance", seu último filme. A história se passa quase que inteiramente em uma lanchonete, onde a gerente Sandra (Ann Dowd) recebe a ligação do policial Daniels (Pat Healy), relatando que uma mulher o procurou na delegacia acusando sua funcionária Becky (Dreama Walker) de ter roubado dinheiro de sua bolsa. Porém, ele não teria como comparecer à lanchonete naquele momento, por estar em uma operação ainda mais grave envolvendo Becky e pede para que ela a chame na sala. A partir daí, pelo telefone, o Oficial Daniels convence Sandra a revistar a acusada e com o avançar da história, ele faz com que, não somente Sandra, mas também outros personagens cometam atos  aparentemente impossíveis contra Becky. Craig Zobel, além de dirigir, também roteirizou o filme, que foi baseado em fatos reais, e conduz com maestria o desenrolar da história. Talvez o filme soe incoerente ou com ações impossíveis para alguns, mas deve-se lembrar que se passa nos Estados Unidos, onde a crença na polícia é muito forte e Zobel deixa a trama muito bem amarrada, levando em conta que é sempre satisfatório e encorajador receber um elogio de uma autoridade para fazermos aquilo que não julgamos certo ou até mesmo fazer e depois pensar que "eu não queria, mas foi ele quem ordenou". Diante dos acontecimentos, o diretor faz com que fiquemos sempre passivos aos acontecimentos, embora questionadores. Ao final do filme percebemos todas as suas possibilidades e coerência. Mesmo um pouco parado, "Compliance", adorado na cena independente, conquistou a crítica por ser um filme brilhantemente inteligente.

Resenha escrita por André Ciribeli.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

As Músicas Que Nos Conquistaram em 2012.


Antes de começar efetivamente as novas resenhas (já temos uma lista aguardando), sentimos a necessidade de deixar esse registro das músicas que nos conquistaram em 2012 e que, com certeza vão continuar no nosso player em 2013. Esperamos que gostem e que ouçam essas delícias.

She’s 22 – Norah Jones
Norah Jones sempre foi boa para fazer músicas melancólicas mas em "She’s 22" ela se superou. Talvez por essa música trazer uma melancolia crua. De longe a minha preferida no "Little Broken Hearts.

Nothing But Time – Cat Power
Faixa do mais recente disco de Cat Power, "Nothing But Time" me encanta por ser o oposto da música de Norah Jones,  é uma canção que soa otimista, gostosa de ouvir e cantar junto, ainda que sua letra não seja tão pra cima assim. 

Chegar em Mim – Céu
O disco "Caravana Seria Bloom" é todo bom, mas "Chegar em Mim", a música que encerra o disco, é a cereja em cima do bolo, é uma aula de como fazer uma música romântica sem ser piegas ou cafona.

Eclipse Oculto – Céu
E Céu, no final do ano, entrou para a minha lista de músicas preferidas de novo. Dessa vez com a versão espertinha e pra cima que fez de um clássico de Caetano Veloso. Sabe aquela música feita pra ouvir com som alto? Então, é esse o caso. Do mesmo disco, (A Tribute to Caetano Veloso), ouça Momo, em "Alguém Cantando".

Porto Alegre – Tulipa Ruiz
Outra coletânea em homenagem a um grande artista de nossa MPB. Dessa vez o homenageado é Péricles Cavalcanti, com um disco em que as novas musas da MPB cantam seus principais sucessos. Coube a Tulipa Ruiz interpretar "Porto Alegre" (do repertório de Adriana Calcanhotto), em uma versão linda e que só a Tulipa poderia fazer. 

Samba a Dois – Jô Nunes
Idealizado pelo site Musicoteca, que disponibiliza músicas de forma legal e gratuita, a coletânea Re-Trato presta uma belíssima homenagem ao grupo Los Hermanos. Jô Nunes, com sua voz suave e deliciosa se encarregou de regravar "Samba a Dois" e o resultado não poderia ser melhor.

Tropicalea Jacta Est – Tom Zé e Mallu Magalhães
No disco que Tom Zé revisita a Tropicália com primor e originalidade, "Tropicalea Jacta Est" se destaca com a participação primorosa de Mallu Magalhães, usando de artifícios únicos como somente o grande Tom Zé sabe fazer.

Canto das Três Raças – Mariana Aydar
Em “Cantoras do Brasil”, programa que foi ao ar pelo Canal Brasil, cantoras da nova geração reviveram músicas de artistas consagradas no passado. A Mariana Aydar coube homenagear Clara Nunes e sua versão de "Canto das Três Raças" ficará marcada para sempre como o grande destaque do programa.

Ou Não – Cinco a Seco
A reunião de cinco grandes músicos, embora desconhecidos do grande público, resultou, para mim, na formação de um dos melhores grupos da atualidade. O seu show ao vivo no Ibirapuera, registrado em CD e DVD conta com a participação de Lenine em "Ou Não". Excelente.

Altos e Baixos – Roberta Sá
Em "Segunda Pele", seu disco mais pop, Roberta Sá canta a inconstância e a busca pelo sucesso, mesmo que efêmero, em "Altos e Baixos", grande destaque do disco.

Por Rafael Tavares e André Ciribeli.