sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Resenha de Filme: Camila Pitanga Brilha Sendo Dona Absoluta de Filme.

Tem filmes que são concebidos com a função única de fazer suas estrelas brilharem absolutas, unânimes. O que não é ruim, mas para que isso aconteça, primeiro é preciso uma estrela de tamanho e talento que aguente o peso dessa responsabilidade. Além disso, o roteiro e a direção precisam oferecer um personagem denso, para que ela brilhe e mostre o que sabe fazer de melhor. É essa equação que existe em "Eu receberia as piores notícias de seus lindo lábios", filme baseado no livro homônimo de Maçal Aquino e dirigido por Beto Brant e Renato Ciasca. Aqui, todos os elementos do filme estão a disposição de sua estrela, o centro desse "sistema solar" que é Camila Pitanga. E a atriz cumpre à risca o seu papel, roubando a cena com uma interpretação assustadora (no bom sentido), se entregando à personagem Lavínia como poucas outras atrizes se entregariam para personagens bem menos densos. Camila é dona do filme e sem seu talento duvido que o resultado final seria tão bom. Ambientado na Amazônia, "Eu receberia as piores notícias de seus lindo lábios" conta a história de um triângulo amoroso entre o fotógrafo Cauby (Gustavo Machado) e a conturbada Lavínia, que vai até ao Norte do Brasil acompanhando seu marido (Zecarlos Machado), pastor que inaugura uma nova igreja em território amazonense. A direção soube aproveitar bem o universo clichê e também moderno da região. Estão lá os rios, os ritmos, o suposto isolamento da região e seus maiores problemas, como o desmatamento. De moderno, a existência das religiões neopentencostais, realidade tão presente nas nossas vidas, mas pouco retratada no nosso cinema. A Amazônia de "Eu receberia as piores notícias de seus lindo lábios" é uma Amazônia distante, quase mítica, sem leis e onde reina um abandono, como um deserto inabitável. A única pessoa que reina nesse lugar inóspito, ainda que de forma tortuosa e calejada, é a Lavínia de Camila Pitanga, a razão de ser desse filme.

Resenha escrita por Rafael Tavares.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Resenha de Disco: Música e Sentimento Se Unem no Cotidiano Amoroso de Nina Becker e Marcelo Callado.

Ao constatarem o grande número de canções que já fizeram juntos, o casal Nina Becker e Marcelo Callado resolveram registrar essas músicas, dando origem ao disco "Gambito Budapeste", gravado na residência do dois. Recheado de momentos particulares, o álbum transborda a beleza do relacionamento a dois, onde divide-se o prazer de se fazer o que gosta. Nina Becker é considerada uma das cantoras mais influentes da sua geração. Começando a sua carreira na Orquestra Imperial, foi em 2010 que teve amplo reconhecimento da crítica com o lançamento simultâneo de dois álbuns, "Azul" (marcado por delicadeza e suavidade) e "Vermelho" (marcado pela emoção e intensidade). Já Marcelo Callado é baterista da "Do Amor", banda que acompanha sua esposa e "Banda Cê", que acompanha o cantor Caetano Veloso. "Gambito Budapeste" pode ser encarado como um celebração ao amor do casal, onde todas as suas músicas foram compostas pelos dois, juntos ou separadamente, com exceção do grande destaque do disco, "Armei a Rede", de Assis Valente e Arsênio Ottoni, baião encantador, de pegada interiorana, que encaixou perfeitamente com o delicado trabalho dos artistas. O disco apresenta sons e barulhos improvisados, incorporados a canções que passeiam por sonoridades distintas. Nina e Marcelo cantam em duo algumas faixas e se revezam em outras, permitindo que o álbum jamais soe monótono. "Marco Zero", "De Cor, Coração", "Tucanos" e "Saudade Vem" são exemplos de deliciosas músicas presentes no disco. Alegrias, tristezas, experiências e intimidade fizerem o coitidiano amoroso de Nina Becker e Marcelo Callado dar origem a um belíssimo trabalho.

Resenha escrita por André Ciribeli.

domingo, 26 de agosto de 2012

Resenha de Disco: Norah Jones Lança Disco Novo e Mostra Que Ela Nunca Erra.

Há exatos dez anos, Norah Jones lançava seu primeiro disco, "Come Away With Me", que foi recebido com grande entusiasmo pelo mundo da música. Passada uma década, a cantora nova-iorquina acaba de lançar mais um álbum, bem distante da sonoridade de seu debut e bem mais próximo do pop. Mesmo longe do que a consagrou, Norah mostra mais uma vez que ainda que mude, ela não erra na mão. Danger Mouse, produtor do disco, intitulado "Little Broken Hearts", leva Norah por um caminho de experimentações não visto em outros discos, apesar da sua aproximação gradativa do pop "classudo" ter começado já no seu segundo trabalho de estúdio. Nessas circunstâncias, o senso comum nos diria que o resultado seria distante da essência de Norah, mas não, ela continua lá, sua voz suave e melancólica também. É impressionante como Norah Jones consegue dizer muito, parecendo fazer tão pouco. O disco não conta com canções grandiloquentes, sacadas geniais e nem é um divisor de águas da música americana, é simplesmente um disco com músicas cumprindo sua função primordial, de encantar nossos ouvidos e nos colocar para cantar junto. "Happy Pills", de letra petulante, mostra que toda essa timidez de Norah pode dar lugar a uma postura mais explosiva. Em "Miriam", a cantora interpreta uma vingativa mulher traída (assista ao clipe lançado recentemente). Outros destaques são "Travellin’ On", "Out on The Road" e "She’s 22", que dá vontade de deixar tocando no repeat o dia todo. Para felicidade dos fãs brasileiros, além de lançar um disco maravilhoso, no final do ano Norah Jones vem ao Brasil para mostrar todos os seus acertos dessa década. Que dezembro não demore para chegar.

Resenha escrita por Rafael Tavares.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

A Grandiosa Herança Deixada Por Nelson Rodrigues no Cenário Cultural Brasileiro.

No dia 23 de agosto, comemora-se o centenário de um gênio da escrita. Jornalista e autor de grandes obras, tanto polêmicas quanto aclamadas, Nelson Rodrigues estará em festa no andar de cima. O Pernambucano que veio quando criança com sua mãe e irmãos para o Rio de Janeiro ao reencontro do pai, iniciou sua carreira ainda menino, mais precisamente com 13 anos de idade, escrevendo para o jornal "A Manhã", que era de propriedade de seu pai. Tendo o futebol e a literatura como suas grandes paixões, foi convivendo no cenário carioca que Nelson adquiriu vasta experiência no campo do jornalismo policial, onde buscou inspiração para escrever suas obras, que abordavam os problemas sociais, com ênfase nas tensões vividas no dia a dia, e principalmente a vida a dois. Ele retratava o amor de uma forma única, que envolvia tanto o psicológico dos seus personagens quanto o passado e as influências externas que caiam sobre o relacionamento, passando pelo sexo, desejo e infidelidade, gerando obras que mesmo polêmicas, poderiam se tornar verdadeiros objetos de estudo do comportamento humano. No jornal "O Globo", ele dedicou parte do seu tempo para trabalhar em peças teatrais, sendo "A Mulher Sem Pecado" a sua primeira. O sucesso veio com "Vestido de Noiva", que narra a história de Alaíde, que após se atropelada, passa por confusões mentais entre realidade e alucinações que envolvem ela, seu marido e a irmã. Assim como outros trabalhos de Nelson, "Vestido de Noiva" virou filme com a direção de Joffre Rodrigues, tendo Marília Pêra, Simone Spoladore e Letícia Sabatella no elenco. Entre as obras do dramaturgo, pode-se citar "Álbum de Família", "Viúva, Porém Honesta", "Anjo Negro", "Dorotéia", entre outras. Foi no jornal "A Última Hora" que ele publicava as crônicas intituladas "A Vida Como Ela é", grande sucesso de sua carreira, que deu origem a vários episódios que foram exibidos pela Rede Globo. Torcedor fanático do Fluminense, ele participou da bancada esportiva também da Rede Globo. Em 1967 passou a publicar "Memórias" no "Correio da Manhã". Com a saúde debilitada, o genial dramaturgo, escritor e cronista vem a falecer por complicações respiratórias aos 68 anos em uma manhã de domingo, mas nos deixou a herança grandiosa de todo o seu trabalho imortalizado no cenário cultural. 

Coluna assinada por Ludimila Marinho.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Resenha de Livro: A Delicadeza de "O Tempo Entre Costuras" e a Força da Literatura Espanhola.

Embora a Espanha hoje esteja afogando-se em uma das maiores crises econômicas de sua história, sua literatura desponta com uma das mais fortes e inventivas dessa primeira década do século XXI, com a consagração internacional de grandes autores e livros nas listas mundiais de mais vendidos. Maria Dueñas é uma dessas autoras espanholas que encantam pela força e sutiliza de sua prosa. Seu primeiro livro, "O Tempo Entre Costuras" vendeu aproximadamente 550 mil exemplares no Brasil segundo o Blog "Colheirada Cultural" e é um bom exemplo de como o livro pode agradar a maioria, sem deixar a qualidade literária de lado. Nascida em 1964, Maria Dueñas é doutora em Filosofia Inglesa e professora titular da Universidade de Múrcia, lecionando também em universidades norte-americanas. Quando lançou "O Tempo Entre Costuras", em 2009, foi comparada a Carlos Ruiz Zafón - autor de "A Sombra do Vento" e um dos autores espanhóis mais lidos atualmente - "por sua prosa hipnotizadora e a forma cheia de imaginação e delicadeza com que combina fatos e personagens reais com ficcionais". Ambientando na Espanha e no Proletariado Espanhol em Marrocos no período entre guerras, o livro conta a história de Sira Quiroga, um jovem costureira que, por causa de um amor arrebatador, se vê obrigada a envolver-se com figuras importantíssimas da Guerra Civil Espanhola e também da Segunda Guerra Mundial, numa trama rica em intrigas, investigações, suspense e, também, romance. Costurando fatos reais com ficcionais, Maria Dueñas consegue falar sobre tempos difíceis para a Europa através de uma prosa sutil e delicada, prosa que consegue, ainda, expressar na cadência das frases, nas pausas e na escolha de palavras, o estado de espírito de sua protagonista-narradora. Em quase quinhentas páginas, "O Tempo Entre Costuras" nos oferece uma leitura densa e ao mesmo tempo fácil e prazerosa.

Resenha escrita por Rafael Tavares.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Resenha de Filme: Contestador, "Jogos Vorazes" é Ficção Que Não Foge Totalmente da Realidade.

Ultimamente, bem sucedidos filmes focados no público adolescente têm invadido as telonas do mundo inteiro e virado verdadeira febre mundial. A série Harry Potter e a saga Crepúsculo, adaptados de livros populares entre os jovens,  que ganharam o cinema, são exemplos disso. Porém, a trilogia adaptada dos livros de Suzanne Collins, não pode nunca ser comparada aos filmes citados. "Jogos Vorazes" (Hunger Games), é um filme contestador e que trata seu público alvo com uma inteligência difícil de ser encontrada em filmes do gênero. Com a direção competente de Gary Ross (três vezes indicado ao Oscar como roteirista), o filme é uma ficção não tão longe da realidade. A América, renomeada de Panem é composta por 12 distritos, que depois de uma tentativa de revolução, como punição, a Capital passou a cobrar de cada um dos distritos dois jovens, um homem e uma mulher com idade de 12 a 18 anos, para, em uma arena, lutar até a morte, sendo que ao final só poderá restar um sobrevivente, tudo monitorado e divulgado pela mídia e acompanhado fervorosamente pela população, que torce e sofre junto com os seus preferidos, como uma espécie de reality show. Katniss, (Jennifer Lawrence, de Inverno da Alma, em excelente atuação), do distrito 12, se torna voluntária para participar dos jogos, evitando a ida da sua irmã mais nova. Peeta (Josh Hutcherson), jovem com quem mais tarde vive um "duvidoso" romance, é o escolhido para atuar nos jogos ao lado dela. O filme hora alguma apela para a violência, embora o contexto assim permitiria, mas é bem focado em uma crítica bastante contundente, abordando temas como autoritarismo e principalmente o culto às celebridades. Enquanto Katniss sofre ao ter que matar, ela sabe que se não o fizer, irá morrer, claramente uma associação à forma como o governo consegue controlar a população. O filme conta ainda com competente atuações de Stanley Tucci, Wes Bentley, Willow Shields, Liam Hemsworth, Woody Harrelson e Toby Jones. Embora seja um obra de ficção, não foge completamente da realidade. Se no filme as pessoas matam para sobreviver, no reality show mais famoso do Brasil elas mentem, manipulam, criam intrigas e quando brigam, a audiência é alavancada, tudo em prol de dinheiro e sucesso, bem menos significativo que a vida, e para conseguir os almejados milhões, passam por provas de resistências que testam todos os limites dos participantes. Não posso afirmar com certeza que esse tipo de programa, no futuro, não se assemelhará bastante com os jogos do filme. "Jogos Vorazes" é, enfim, filme contestador, inteligente e que, embora ficcional, não se afasta tanto do que é propagado pela mídia atualmente.

Resenha escrita por André Ciribeli.

domingo, 12 de agosto de 2012

O Som de Marcelo Jeneci é Mesmo Pra Sonhar.

Um músico completo e versátil, assim pode-se definir Marcelo Jeneci, o paulista que vem conquistando os palcos brasileiros na companhia de grandes instrumentistas e de Laura Laviere, dona de uma voz doce e ao mesmo tempo marcante, com quem divide os vocais em músicas de sua autoria. Seu trabalho, sempre muito elogiado pela crítica, vem se destacando cada vez mais no cenário independente desde o lançamento, em 2010, do seu primeiro disco, "Feito Pra Acabar". Jeneci é um excelente compositor e instrumentista. Suas músicas já foram gravadas por Vanessa da Mata, Arnaldo Antunes, Chico César e Zélia Duncan. As músicas "Amado", gravada por Vanessa da Mata e "Felicidade", gravada pelo próprio Marcelo, já fizeram parte da trilha sonora de novelas. Ao ouvir "Dar-te-ei" e "Café com Leite de Rosas", pode-se notar um quê de Jovem Guarda, misturado com arranjos criativos. E como ficar parado ao som de "Show de Estrelas"? Seu disco é um trabalho extremamente multifacetado. No último dia 24 de Julho, Marcelo lançou oficialmente o clipe da música "Pra Sonhar" e sim, o clipe é mesmo pra sonhar, pra se derreter feito manteiga, para adoçar nossas almas desacreditadas de um final feliz, pra perceber que há amor, que há brilho nos olhos e a cumplicidade ainda existe. O clipe é composto por cenas cedidas por diversos casais do Brasil em um momento muito importante, quando as metades da laranja se juntam num sim, o casamento. O clipe é democrático, sem preconceito e deliciosamente charmoso. Gente comum, gente que ama, gente que vive e que com certeza admira o trabalho desse grande talento da música brasileira.

Coluna assinada por Ludimila Marinho.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Resenha de Disco: Em Novo Álbum, Tom Zé Estuda a Tropicália com Elegância e Criatividade.

Tom Zé, aos 75 anos é, eu diria, um dos artistas brasileiros mais criativos de todos os tempos. Sua maneira única de "estudar" ritmos e propôr novas formas de enxergá-los é uma prova da sua genialidade. Com mais de 30 discos lançados, o artista que já tem mais de 50 anos de carreira, depois de estudar a bossa e o samba, lança agora "Tropicália Lixo Lógico". Tom Zé foge do óbvio e vai além do Tropicalismo. Criativo, ele faz uma mistura de ritmos que passeia por samba enredo, marchinhas, rap, bossa e reinventa a Tropicália a seu modo. O artista também acrescenta toques da denominada "Nova MPB" ao disco, contando com participações de  Mallu Magalhães, na deliciosa faixa "Tropicalea Jacta Est", Emicida, que abre e fecha o disco, nas faixas "Apocalipsom A: O Fim no Palco do Começo" e "Apocalipsom B: O Começo no Palco do Fim", Pélico e Rodrigo Amarante. Tom Zé recorre ainda a citações, referências literárias e a frases latinas para rechear o disco. Músicas como "Amarração do Amor", "A Terra, Meus Filhos" e "Não Tenha Ódio no Verão" servem de exemplos para mostrar a inteligência artística presente no álbum, que pode ser comprado no site do cantor, no formato de CD e Vinil e já vem autografado. Em "Tropicália Lixo Lógico", Tom Zé mostra maturidade, autenticidade e criatividade, que já são suas marcas registradas, com uma musicalidade que torna obrigatória a audição da mais nova obra-prima desse grande artista.

Resenha escrita por André Ciribeli.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Resenha de Disco: Bárbara Eugênia e Seu Conturbado Cotidiano Sentimental.

O Brasil vive um grande momento musical. São inúmeros artistas que despontam na aclamada cena independente, mesclando vários estilos e mostrando um talento que infelizmente é deixando de lado pela mídia, não alcançando o grande público. Porém, para o deleite dos ouvidos ávidos por boa música, o Brasil tem qualidade musical para mostrar. Esses artistas são, na sua maioria, jovens buscando seu lugar ao sol, no tão competitivo meio artístico. Uma cantora que pode ser inserida dentro desse contexto é Bárbara Eugênia. Carioca, já chegou a morar nos Estados Unidos, mas foi em São Paulo, em 2005, que grandes oportunidades surgiram em sua carreira. Seu primeiro disco, lançado em 2010 e intitulado "Journal de Bad" faz um apanhado de uma vida sentimental um tanto quanto conturbada. É possível encontrar melancolia, amores desfeitos e sentimentos confusos, tudo bem casado com a voz rouca da cantora. Embora possa ser caracterizado como um disco de MPB, o Rock sessentista é encontrado, com maior ou menor intensidade, em grande parte do álbum. "A Chave" é música que abre muito bem o disco e é grande destaque, narrando a impotência perante um relacionamento fadado ao fracasso. Bárbara Eugênia se torna irônica em "É, rapaz" e conta com a participação de Tom Zé em "Dor e Dor". Por se manter na linha sentimental, o disco soa coeso, porém, sem se tornar atrativo para quem sofre de dor de cotovelo. Bárbara já é destaque nacional ao abrir seu coração para mostrar seu conturbado cotidiano sentimental.

Resenha escrita por André Ciribeli.