quarta-feira, 27 de março de 2013

Resenha de Filme: Doze Homens e Uma Sentença: Um clássico vigoroso e atual


Doze Homens e Uma Sentença, do diretor Sidney Lumet, é um daqueles filmes que podem ser considerados clássicos. Mas, afinal, o que é um clássico? Para o cinema, um clássico é aquele filme que de tão bom e vigoroso permanece atual independente da época em que tenha sido feito.
Doze Homens foi lançado em 1957 e mostra a reunião de 12 jurados que precisam decidir o futuro de um jovem que está sendo acusado de matar o próprio pai. Passado inteiramente dentro de uma sala e focando exclusivamente na deliberação dos 12 homens, a sinopse pode sugerir que trata-se de mais um filme enfadonho. Ledo engano.  
Lumet aproveita-se das limitações da história e cria um jogo de cena impressionante, que de nada valeria se não fosse seu enorme talento de diretor, cercado por grandes atores em grandes interpretações. Cabe ressaltar também o importante papel do roteiro na feitura deste filme: como não havia espaço para criar cenas e imagens, o roteirista conseguiu desenvolver diálogos que suprem essas faltas.
Aliás, Doze Homens não é apenas econômico em cenários: tudo no filme leva ao minimalismo e nada está ali gratuitamente. O que está lá, assim como o que não está; o que é dito, e também o que não é dito (caso dos nomes dos jurados) têm um propósito.
Mas o grande mérito de 12 Homens e Uma Sentença é ser mais instigante do que muitos filmes que utilizam de técnicas e tecnologias feitas justamente para... instigar!
Nesse jogo de cena tenso, Lumet cria uma história cheia de reviravoltas e surpresas e acaba falando sobre temas tão presentes em nosso cotidiano, como o preconceito. E tudo isso com 12 atores em uma sala. 

segunda-feira, 18 de março de 2013

Resenha de Disco: Tudo Esclarecido, (mais) um disco irretocável de Zélia Duncan


Zélia Duncan está naquela lista seleta de artistas constantes, sem aqueles altos e baixos na carreira tão comuns (e aceitáveis). Seus discos comungam entre si de uma qualidade inquestionável e invariável. Além disso, Zélia é uma grande compositora e intérprete.
Seu mais recente trabalho, Tudo Esclarecido, lançado já no fechar de cortinas de 2012, corrobora o parágrafo acima: é um disco coeso e mostra a capacidade de Zélia de debruçar-se sobre a obra de um autor sem soar como uma simples regravação. O álbum é todo feito com canções de Itamar Assumpção, compositor paulistano de grande importância no cenário nacional.
Itamar Assumpção é um dos grandes nomes da cena que ficou conhecida como Vanguarda Paulista na década de 70-80, vanguarda que hoje é referência para importantes nomes da Nova MPB (também paulista, em sua maioria). A vanguarda da década de 70 lutou contra as grandes gravadoras, pela dificuldade em se gravar e pela falta de liberdade criativa, levando esses músicos a abrirem suas próprias empresas e lançando seus discos de forma independente. Por causa disso, o maldito da MPB (como Assumpção era conhecido) foi taxado de difícil pela crítica e mídia. Tanto que é dele a célebre frase “Eu sou um artista popular!”, ao ser perguntado sobre o assunto.
Apesar disso, seu legado e importância nunca foram esquecidos e Itamar foi gravado por grandes nomes, como Cássia Eller, Jane Duboc, Ney Matogrosso, Zizi Possi e, claro, Zélia. Aliás, não é de hoje que Duncan tem uma relação com o catálogo de Assumpção: ela já interpretara Código de Acesso, Vi, Não Vivi, entre outras.
Talvez por essa proximidade com a obra de Itamar Tudo Esclarecido seja um disco de intérprete sem parecer de intérprete: Zélia entende todo o conjunto e se coloca à disposição dele de forma tão bela a ponto de parecer que, na verdade, as canções são de sua autoria.
Destaque para Mal Menor, Tua Boca e Quem Mandou, prova de que Itamar não é nem de longe um artista difícil e que Zélia é completa. Além disso, é ótima a parceria (tão improvável) entre Martinho da Vila e Zélia em É de Estarrecer.
 Em um país conhecido pela força de cantoras intérpretes, Zélia - a compositora -  mostra que também faz jus à essa regra nacional. 

quarta-feira, 13 de março de 2013

Resenha de Série: Acabou-se o Que Era Doce: Duas Séries Que Mereciam Estar No Ar.

Enquanto escrevia sobre as séries britânicas para o blog, lembrei-me de duas outras que tiveram uma passagem breve pela TV americana, mas que deveriam estar no ar.  Ambas foram vítimas da guilhotina cruel da TV americana: enquanto aqui readapta-se, modifica-se e remodela-se os programas de TV para agradar a audiência, as emissoras americanas tiram do ar tão logo percebe-se que não houve resposta dos telespectadores. Nesse jogo muitas coisas boas se perdem e outras piores são mantidas, mas é assim que funciona. As duas séries de hoje, Pushing Daises e United States of Tara, tiveram vida curta na TV e, apesar disso, marcaram o meio após suas passagens. Pushing Daises, criada por Brian Fuller, foi ao ar na TV americana entre outubro de 2007 e junho de 2009 e contou a história de Ned, um confeiteiro que tinha a estranha habilidade de trazer mortos de volta à vida (e também de volta à morte) com um toque, porém durante apenas um minuto. Caso não levasse a pessoa ressuscitada de volta à morte novamente, outra próxima morreria em seu lugar. Ned, então, utiliza esse artifício para fazer reviver seu grande amor, mas fica impossibilitado de toca-la para sempre, sendo esse o mote romântico do seriado.  Além dele, com seu dom, Ned passa a desvendar mistérios, assassinatos, tanto que a série foi vendida como um “conto de fadas forense”. O grande diferencial de Pushing Daises era unir o universo mórbido de Tim Burton com o lúdico de Amelie Poulain, mais parecendo um filme do que um simples seriado para a TV. Cada episódio era um encanto visual, rico em símbolos, sem esquecer-se do básico: ótimas interpretações para um ótimo texto. Com duas temporadas de vida, Pushing Daises teve grande êxito na primeira, mas seu público não continuou na segunda. Apesar disso, devido a boa recepção da crítica e dos poucos fãs que permaneceram, a série virou uma HQ e há planos para que vire um filme. United States of Tara foi ao ar pelo canal pago Showtime e mostrava a vida de uma família de classe média americana disfuncional (como normalmente toda família é), sendo regida por uma mãe amorosa e suas outras personalidades. Tara, a personagem título, lindamente interpetada por Toni Colette, sofria de Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI), mais conhecido como Transtorno de Múltipla Personalidade. Criada por Diablo Cody (roteirista do ótimo Juno e do péssimo Garota Infernal), United States durou 3 temporadas e é um grande exemplo de como comédia e drama se encontram e podem funcionar juntos. Isso é resultado de um texto inteligente, que preza pelo “menos é mais” e de um grupo de atores – encabeçados por Colette – que entenderam perfeitamente o programa e deram o melhor de seus talentos para transmitirem a verdade de seus personagens. E conseguiram. United é um palco para Toni Colette mostrar, em exemplos, o que faz dela uma das melhores atrizes de sua geração (pena que Hollywood ainda não se deu conta disso). A regra é clara e o jogo é justo: a TV vive de publicidade e a publicidade precisa de audiência para poder anunciar na TV. Então, se não deu audiência, não há razão para manter um programa no ar. United States of Tara e Pushing Daises foram vítimas da regra. A nossa sorte é que os DVDs estão aí para nos mostrar que nem tudo está perdido. 

Resenha escrita por Rafael Tavares.