terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Resenha de Filme: Relatos Selvagens Apresenta Humor e Raiva Em Episódios Impecáveis.


O Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2015 foi pra Polônia, com "Ida", mas eu apostava em "Leviatã", da Rússia. Outro que não levou a estatueta foi o excelente "Relatos Selvagens", da Argentina, país que está cada vez mais apresentando filmes de alta qualidade. O filme, dirigido por Damián Szifron, apresenta 6 histórias diferentes que mesclam drama, vingança, violência e comédia. Porém, o humor é refinado e inteligente, ao contrário (infelizmente) das comédias brasileiras de humor rasteiro que, atualmente, ainda conseguem levar um público significativo ao cinema. O primeiro episódio é o mais curto de todos e se passa dentro de um avião. Não dá para falar muito, pois corre-se o risco de estragar o final. O próximo se passa dentro de uma lanchonete de beira de estrada, onde uma garçonete tem a chance de se vingar do homem que acabou com sua família e, para isso, conta com a "pequena" ajuda da cozinheira do estabelecimento. Temos ainda um episódio que mostra um desentendimento em uma estrada chegar a consequências inesperadas, sendo talvez, o mais violento, e um onde o pai rico tenta livrar o filho de ser preso após o mesmo atropelar uma mulher grávida. O astro Ricardo Darín protagoniza a história de um cidadão comum que tem seu carro rebocado, o que lhe causa vários transtornos e o  leva a um grande ato de violência. Relatos Selvagens tem como mérito apresentar várias histórias igualmente interessantes, o que é incomum em filmes desse tipo, que geralmente apresenta alguns momentos mais fracos. O filme se mantém coeso durante todo o tempo e deixa por último um episódio que se passa em um casamento, onde uma noiva enfurecida (belíssima atuação de Erica Rivas) resolve se vingar do esposo infiel, sendo o mais marcante de todos. A personagem de Erica Rivas poderia facilmente sair de um dos filmes de Pedro Almodóvar que, aliás, é creditado como um dos produtores do filme, que conta ainda com a atuação de Dario Grandinetti, Diego Gentille e Oscar Martínez. O filme pode não ter levado o Oscar, mas teve reconhecida a sua grandiosidade.

Escrito por André Ciribeli.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Resenha de Filme: Leviatã, de Andrey Zvyagintsev, Tem a Corrupção Como Um Monstro a Ser Enfrentado.


Foram grandes as expectativas em cima de "Hoje Eu Quero Voltar Sozinho", longa do diretor Daniel Ribeiro, para o Oscar 2015 na categoria de Melhor Filme Estrangeiro. Infelizmente, não foi dessa vez. Embora o filme contasse com excelentes interpretações e um roteiro consistente, ficou de fora da lista dos selecionados. Volto ao Esfinge Cultural para falar um pouco sobre um dos indicados, "Leviatã", representante da Rússia, dirigido por Andrey Zvyagintsev, ganhador do prêmio de melhor roteiro do Festival de Cannes de 2014 e o grande favorito para a categoria do Oscar. O roteiro, aliás, foi assinado pelo próprio Zvyagintsev. O filme conta a história da briga na justiça (e fora dela), de Kolya (Serebryakov) com o prefeito corrupto Vadim (Madyanov), que deseja suas terras e, para isso, chega a fazer uso de meios nada pacíficos. Para preservar suas terras, Kolya conta com a ajuda do advogado e seu velho amigo Dmitri (Vladimir Vdovitchenkov). O filme consegue abordar uma série de assuntos polêmicos, como corrupção, adultério, decadência familiar e injustiças sociais, tendo a Rússia de Vladimir Putin como cenário para narrar essa sátira política. No longa, o poder é maior que a justiça, apresentando um clima constante de tristeza, mentiras que são transformadas em verdades e decisões jurídicas que são lidas rapidamente, mostrando o quão viciadas estão. Se no início a resignação não faz parte dos adversários do prefeito Vadim, ao longo do filme acabam se entregando ao desespero frente ao "monstro" que enfrentam. Conta ainda com personagens interessantes, que são muito bem construídos e ajudam a dar equilíbrio à história. Ao mostrar um esqueleto de baleia que se encontra na propriedade de Kolya, Zvyagintsev mostra que os monstros antigos já se foram, e o Leviatã a ser enfrentado agora já é outro. Com isso, uma passagem citada durante o filme, é bem pertinente: "Você consegue pescar com anzol o Leviatã ou prender sua língua com uma corda?" Esperar vencê-lo é ilusão, apenas vê-lo já é assustador. Vale lembrar que Leviatã já ganhou o prêmio de Melhor Filme Estrangeiro no Globo de Ouro e é aposta (quase) certeira para o Oscar, na mesma categoria.

Escrito por André Ciribeli.