segunda-feira, 23 de março de 2015

Resenha de Filme: "Mommy" é Mais Um Acerto de Xavier Dolan.

 

Considero Xavier Dolan um prodígio. Mesmo com sua pouca idade, seus filmes são muito acima da média. "Eu Matei Minha Mãe", "Amores Imaginários", "Laurence Anyways" e "Tom à la Ferme" figuram na minha lista de obras inesquecíveis, já que seu trabalho pode ser tudo, menos efêmero. Seu último trabalho, "Mommy", não foge à regra. O filme é pautado em seus personagens, com personalidades fortes e muito bem trabalhadas. Em um Canadá ficcional, a lei permite que pais internem facilmente seus filhos em instituições públicas, caso esses causem problemas. Steve (Antoine-Olivier Pilon), jovem hiperativo, é expulso de uma dessas instituições por provocar um incêndio, e assim, fica aos cuidados de sua mãe, Diane "Die" Després (Anne Dorval), tão desnorteada quanto o filho. A relação conturbada dos dois é marcada por altos e baixos. Ao mesmo tempo em que sentem carinho um pelo outro, o humor inconstante de Steve causa grandes problemas, tornando-o até violento. Um certo equilíbrio é encontrado com a ajuda da vizinha Kyla (Suzanne Clément), que dedica um tempo enorme de seus dias para ajudar os dois e claramente possui problemas emocionais, aparentes em sua dificuldade em articular as palavras. Dolan foi responsável pela direção, roteiro, produção, edição e figurino de "Mommy", e consegue realizar seu trabalho mais maduro e consistente. O filme foi merecidamente ganhador do Prêmio do Júri em Cannes e conta, além de uma enorme criatividade visual e uma trilha sonora certeira, com excelentes interpretações que desabrocham no momento certo. Impactante, mas belíssimo, "Mommy" merece todos os elogios possíveis.

Escrito por André Ciribeli.

quinta-feira, 12 de março de 2015

Resenha de Filme: Mesmo Depois de Décadas, "As Vinhas da Ira" Ainda Permanece Atual.


Alguns filmes lançados décadas atrás podem, nos dias de hoje, soar bastante atuais. Esse é o caso de As Vinhas da Ira (The Grapes of Wrath, 1940). Dirigido por Jonh Ford e baseado no livro homônimo de John Steinbeck, narra a história de uma família de pequenos agricultores, arrendatários expulsos de suas terras em Oklahoma durante a depressão, que atravessam o país rumo à Califórnia, em busca de melhores condições de vida. Além de uma viagem difícil, acabam descobrindo que o tão sonhado trabalho era mais utópico do que real. Mais detalhadamente, o filme começa com Tom Joad (o grande Henry Fonda), que após quatro ano preso por homicídio, retorna à casa dos pais e descobre que eles, além de perderem a terra, estão prestes a se mudarem para a Califórnia. Assim, toda a família parte em um caminhãozinho velho levando o pouco que possuem. Pessoas honestas em busca de melhores condições de vida é uma realidade que atravessa décadas e décadas. São trabalhadores que buscam o seu sustento e acabam oferecendo sua força de trabalho a troco de pouco ou quase nada. Muitos enriquecem durante os períodos de crise, e é evidenciado durante todo o filme a exploração da mão de obra barata. Realizado em sete semanas, o filme possui um roteiro impecavelmente adaptado e os acontecimentos são vividos com grande intensidade, mérito de um elenco que reúne, além de Henry Fonda, Jane Darwell, Jonh Carradine e Charley Grapewin. As frases finais de Tom Joad se tornaram antológicas. Concorrendo ao Oscar em 1941, venceu nas categorias de Melhor Diretor (John Ford) e Melhor Atriz Coadjuvante (Jane Darwell) e concorreu a Melhor Ator (Henry Fonda), Melhor Montagem, Melhor Filme, Melhor Som e Melhor Roteiro. Com um belo e perfeito retrato dos Estados Unidos na primeira metade do século passado, As Vinhas da Ira é um clássico, uma obra que merece ser vista númeras vezes. É um exemplo de que um filme não envelhece, ao contrário, alguns conseguem se manter sempre atuais. 

Escrito por André Ciribeli.

quarta-feira, 4 de março de 2015

Resenha de Disco: Pitanga em Pé de Amora Cresce em Belíssimo Trabalho.


Pitanga em Pé de Amora é, ao meu ver, uma das melhores bandas que incorpora a chamada Nova MPB. Seu último trabalho, lançado recentemente, "Pontes Para Si", produzido por Swami Jr., mostra um considerável crescimento musical, ou seja, o que era bom ficou ainda melhor. O coletivo formado por Angelo Ursini (saxofone, clarinete e flauta), Daniel Altman (violão 7 cordas), Diego Casas (violão), Flora Poppovic (percussão) e Gabriel Setubal (trompete e guitarra) apresenta um trabalho mais consistente, poético e mistura xote, samba, baião, jazz e até marchinhas, com coros e cordas sendo muito bem explorados. Os arranjos das músicas são extremamente delicados e faz com que a banda crie uma identidade própria dentro do cenário musical. Se no primeiro disco, que leva o nome da banda, predominava as canções de amor, leves e ingênuas, "Pontes Para Si" abraça tons mais urbanos e letras mais incorpadas, como em "Insônia", belíssima música presente no disco, que conta ao todo com 14 faixas. A grande Mônica Salmaso divide os vocais com Flora Poppovic na excelente "Ceará". Os integrantes se dividem em duetos, coros e interpretações individuais em músicas que são verdadeiros presentes aos ouvidos, como "O Pescador", "Alma de Poeta" e "Razão de Ser". Lançado de forma independente, "Pontes Para Si" conta com dowload gratuito no site da banda (clique aqui). O disco é fantástico e merece uma audição atenta. Pitanga em Pé de Amora cresce e tem seu talento mais que comprovado nesse belíssimo  trabalho.

Escrito por André Ciribeli.