quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Retrospectiva de um Ano Culturalmente Rico.


É muito bom começar um ano e fecha-lo com coisas boas. Felizmente, 2012 foi assim. Nos primeiros meses tivemos o lançamento do maravilhoso disco de Céu, “Caravana Sereia Bloom”, e a chegada aos cinemas nacionais de um dos melhores filmes do ano, “O Artista”, que levou para casa o Oscar e meia dúzia de outras premiações das quais participou. Também tivemos o lançamento de “Segunda Pele”, disco em que Roberta Sá mergulha sua MPB no universo POP. Sem contar os lançamentos de Cris Braun, Caê Rolfsen, a grande Maria Bethânia e tantos outros discos, filmes e livros que encheram nosso ano de conteúdo. “50 Tons de Cinza” foi, sem dúvida, o livro mais comentado do ano, que caiu no gosto popular, embora a crítica especializada não o considere uma obra-prima. Tivemos a surpresa com a mega produção de “Jogos Vorazes”, filme que conseguiu ser não somente bem produzido, mas inteligente e crítico. Terminamos 2012 aqui no Esfinge Cultural com aproximadamente 80 resenhas escritas sobre os mais diversos tipos de expressão artística, sem aquela preocupação em falar somente do que é novo: reviramos baús, (re)descobrimos antigos clássicos, como Os Doces Bárbaros, que continuam mais atuais do que nunca, assim como os livros “Leite Derramado” e “A Sombra do Vento”. Ludimila Marinho participou do nosso blog e, mesmo que por pouco tempo, brilhou ao falar de Frida Kahlo, Nelson Rodrigues, Marcelo Jeneci, entre outros. Para finalizar o ano (e fecha-lo com chave de ouro), recebemos mais presentes para nossas almas, como o recém-lançado disco “Tudo Esclarecido”, de Zélia Duncan, todo composto de canções de Itamar Assumpção e também o “Mulheres de Péricles”, álbum especialmente dedicado às composições de Péricles Cavalcanti, que são lindamente interpretadas pelas jovens vozes femininas da MPB. Esses dois últimos discos ainda não chegaram a ser resenhados aqui no blog (não deu tempo, quem sabe a gente abre 2013 falando deles?). Mas, depois dessa retrospectiva de um ano muito bom culturalmente, o que esperamos para 2013? Mais doze meses de muita música, livros, filmes e todo o tipo de arte e entretenimento que nos leva a escrever esses textos apaixonados, semana após semana, por que aqui no Esfinge Cultural a gente fala do que gosta. Feliz ano novo.

Por Rafael Tavares e André Ciribeli.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Resenha de Filme: O Realismo de "Contágio" Funciona e Suscita Importantes Discussões.

Contágio, um thriller psicológico dirigido por Steven Soderbergh (da trilogia Onze Homes e um Segredo) traz a tona temas comuns a ficção científica e teorias de conspiração. Nas mãos de outro diretor, ele poderia ter se transformado em um filme B (filme hollywoodiano de terror ou suspense com baixo orçamento e qualidade duvidável); mas Soderbergh dá a ele um tom realista e sério, levantando questões importantes para toda a sociedade, embora ela não esteja disposta ou verdadeiramente atenta à elas. Contágio começa com um pequeno grupo de pessoas, aparentemente sem conexão entre si, que desenvolvem gradativamente sintomas parecidos e que subitamente leva todos a morte. A partir daí, mais e mais pessoas são contaminadas e essa (possível) epidemia assusta as autoridades e põe em alerta um jovem repórter (interpretado por Jude Law), que ultrapassa os limites da conduta jornalística em sua investigação sobre a doença. Nesse contexto, Sorderbergh opta por mostrar a situação através de diferentes olhares, seja através dos médicos e autoridades de pequeno e grande escalão, por vítimas da doença e também por seus parentes, dando ao espectador as visões macro e micro da situação. Ao não optar por um ponto de vista, o diretor não toma partido e joga essa dura responsabilidade para o espectador, que é obrigado a questionar-se durante toda a projeção com questões que até então não paramos para analisar e que, de certa forma, precisam ser pensadas. “O que fazer caso uma epidemia seja identificada, contar abertamente à população ou manter sigilo em nome da ordem?”; “Em um caso como esse, pode uma autoridade privilegiar sua família ou deixa-la na mesma situação que outros cidadãos?”, “Se uma cura for encontrada, quem (e qual país) receberá primeiro?”. Essas e outras questões são propostas e muito se deve ao grande (e talentosíssimo) elenco escolhido por Soderbergh para dar vida a esses personagens. Sem deixar respostas, Contágio nos coloca de frente com uma realidade que está aí fora e que, voluntariamente, não nos damos conta. Os vírus estão aí. E para que nossa existência seja colocada em cheque basta que, aleatoriamente, um vírus encontre um hospedeiro e sofra uma mutação que seja letal a nossa espécie. E como agiremos? Preservaremos nosso conceito de sociedade ordenada ou partiremos para barbárie, para o “cada um por si”? É algo a se pensar e é essa a batata quente que Contágio deixa em nossos braços.

Resenha escrita por Rafael Tavares.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Ellen Oléria é a Vencedora da Primeira Edição do The Voice Brasil.

A brasiliense Ellen Oléria foi a grande vencedora da primeira edição do The Voice Brasil, cuja final aconteceu no último domingo, faturando um prêmio de 500 mil reais, um contrato com a gravadora Universal Music e ainda se apresentará no Reveillón de Copacabana. Fazendo uma análise de toda a trajetória do programa, podemos concluir que ele se destaca das demais atrações caçadoras de talentos musicais, a começar pelo seu grande diferencial, quando o candidato não é visto pelos técnicos (Lulu Santos, Carlinhos Brown, Cláudia Leitte e Daniel), cabendo a esses o escolher apenas pela sua voz. Excelentes artistas pisaram no palco da atração, como Mira Callado, Rafah, Sandra Honda e Diego Azevedo que, infelizmente, não foram muito adiante na competição. Porém, o que mais me incomodou foi a predileção dos técnicos por certos candidatos. Algumas apresentações pouco importavam, a escolha muitas vezes eram óbvias, pois quem acompanhou o The Voice desde o início, dificilmente se surpreendeu com as decisões. Igualmente incômodo foi o fato de que agudos e graves altíssimos eram necessários para alavancar o candidato na preferência não só do público como também dos técnicos. A sutileza, a suavidade e delicadeza muitas vezes davam lugar para gritos e firulas que me faziam perguntar "pra quê?". Na final ficaram quatro cantoras donas de grandes e poderosas vozes. Maria Christina, do time de Lulu Santos, que possui grande apelo popular, mas cantava sempre músicas com a mesma temática, porém sua versão de "A Namorada" de Carlinhos Brown foi para mim sua melhor apresentação. Liah Soares, do time do Daniel, que geralmente se apresentava de forma acústica, o que fazia com que às vezes acertasse, outras soasse tediosa. Ju Moraes, do time de Cláudia Leitte, belíssima, comedida e correta poderia facilmente integrar o time das novas cantoras de MPB e samba e a grande vencedora, Ellen Oléria, do time de Carlinhos Brown, dona de enorme potência vocal, grande presença de palco e uma musicalidade invejável. Se não concordei com algumas escolhas, também não posso taxá-las de totalmente erradas. O fato de não ganhar um adolescente cantor sertanejo já é uma vantagem considerável. Com isso, The Voice Brasil é um dos melhores programas do gênero e merece mais edições.

Por André Ciribeli com colaboração de Marília de Paula.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Brasil Comemora o Centenário do Rei do Baião.

O Rei do Baião completaria 100 anos na última quinta-feira, dia 13 e o que não faltam são homenagens ao grande cantor e sanfoneiro. Nascido Luíz Gonzaga do Nascimento e popularmente conhecido como Gonzagão, teve como "Vira e Mexe" o seu primeiro grande sucesso. O Pernambucano foi o primeiro a assumir as características nordestinas em sua música, dando voz aos problemas do povo da região, sempre acompanhado de sua sanfona e seu chapéu de couro, espalhando a poesia do nordeste, suas cores, seus conflitos, usando sua música para dar visibilidade a um povo que até então era marginalizado culturalmente. A vida pessoal de Gonzagão foi marcada por grandes desentendimentos com seu filho, o também grandioso Gonzaguinha e somente em 1979 passaram a ter realmente uma relação de pai e filho, quando viajaram por todo o Brasil compondo e fazendo música. Luiz Gonzaga, que sofreu de osteoporose durante anos, morreu em 1989, vítima de parada cardiorrespiratória, mas deixou um enorme legado musical como herança. "Asa Branca", feita em parceria com Humberto Teixeira, virou um hino do povo nordestino e músicas como "O Xote das Meninas", "Qui Nem Jiló" e "Luar do Sertão" jamais serão esquecidas, sendo inúmeras vezes regravadas por diversos artistas. Gonzagão ainda está vivo na memória do povo brasileiro.

Por André Ciribeli.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Morre Um dos Maiores Músicos Indianos e Norah Jones, Sua Filha, Cancela Turnê Brasileira.

Morreu, na última quarta-feira, aos 92 anos, Ravi Shankar, um dos maiores músicos indianos e mestre da cítara (instrumento típico indiano), após ter realizado uma cirurgia que pretendia melhorar seu estado de saúde já debilitado. Shankar, embora não muito conhecido no Brasil, influenciou gerações de músicos ao redordo mundo, incluindo os Beatles e Rolling Stones e nunca parou de produzir, tendo lançado recentemente um disco elogiado pela crítica especializada. Em nosso país, talvez ele seja mais conhecido por ser pai da cantora, compositora e multi-instrumentista Norah Jones, que iniciaria, ainda na quarta-feira em Porto Alegre, a turnê brasileira de seu último disco, "Little Broken Hearts", e que passaria também por São Paulo e Rio de Janeiro. Em nota, divulgada em sua página no Facebook, Norah diz que tomou "a difícil decisão de cancelar o resto de minha turnê no Brasil, para que assim possa estar com a minha família neste momento tão difícil". E completou: "Todos sentiremos a falta de meu pai. Espero que meus fãs brasileiros entendam e aceitem minhas sinceras desculpas por esses cancelamentos. Espero que eu possa voltar ao Brasil em breve." De acordo com reportagem da Folha, Norah Jones não tinha uma relação próxima com o pai, já que foi criada somente pela mãe, nos Estados Unidos, enquanto o pai vivia na Índia.

Por Rafael Tavares.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Resenha de Filme: "Eu Não Quero Voltar Sozinho" é um Curta-Metragem de Extrema Sensibilidade.

Sensível, cativante e ao mesmo tempo inteligente e atual, assim é o curta-metragem "Eu Não Quero Voltar Sozinho", do diretor Daniel Ribeiro, que já foi premiado no Festival de Berlim com o também excelente "Café com Leite". O curta narra a história de Leonardo (Guilherme Lobo), um adolescente com deficiência visual que está sempre ao lado de sua amiga Giovana (Tess Amorim), que lhe ajuda no que é necessário. A rotina dos dois muda com a chegada de Gabriel (Fábio Audi), aluno novo da escola com quem rapidamente fazem amizade. Assim, o filme nos envolve em uma relação de sensibilidade, proteção, amizade e a descoberta do amor entre dois adolescentes gays. Por mais que seja uma temática difícil, o filme consegue ser leve, trabalhando em cima da humaninade de seus persongens, de uma forma inocente e encantadora, daqueles filmes que te deixa feliz, mas pensativo. O curta fez parte do programa Cine Educação, que exibia filmes nas escolas com o intuito de instruir e conscientizar, mas foi proibido no Estado do Acre por líderes religiosos que pressionaram políticos da região para tal. O que é uma pena, pois o filme em momento algum se revela apelativo, ao contrário, podemos aprender muito em como um tema tão polêmico pode ser tratado de forma simples e conceitual. O curta, que está disponível na internet e recebeu inúmeros prêmios, tanto nacionais como internacionais, trata de um assunto tão comentado ultimamente, mas sem apelação ou sensacionalismo, mas com inteligência e simplicidade. 

Resenha escrita por André Ciribeli.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Resenha de Disco: "A Tribute to Caetano Veloso" Vence Riscos Comuns a Discos de Homenagens e Reverencia Caetano Sem Ser Piegas.

Há certo perigo em se fazer um disco tributo ou greatest hits. Pode-se pecar pela falta ou pela obviedade, pode ser simplório ou nem de longe oferecer um panorama justo sobre a obra do artista. Agora, imagina se esse artista for um daqueles que atuaram como divisor de águas inúmeras vezes e que, com 70 anos de idade ainda produza obras relevantes. É o caso de "A Tribute to Caetano Veloso", um disco-bomba-relógio que, ainda bem, contornam os perigos do caminho citados acima e faz uma bela homenagem, sem ser piegas, a um dos nomes mais emblemáticos da música brasileira. Lançado para comemorar os 70 anos completados em 2012 por Caetano, o tributo está longe de ser um simples greatest hits, que na maioria das vezes soa como disco-caça-níquel e que, nem de longe, reverenciam o homenageado. E o álbum começa acertando por aí. Amontar grandes clássicos de Caetano Veloso em um disco seria o caminho fácil para homenageá-lo e não seria a homenagem ideal para um artista que é conhecido por se reinventar e por reverenciar pouco o passado. Caetano, no alto de suas sete décadas, ainda produz, compõe e lança discos (acaba de lançar "Abraçaço" com a banda Cê e compor um disco inteiro para Gal cantar). No final das contas, um simples greatest hits, no caso de Caetano, seria um insulto. Outro acerto da compilação é valorizar o Caetano compositor, colocando novos nomes da música brasileira e internacional para interpretar suas canções: isso mostra a importância dele para o mercado, já que a cada dez músicos brasileiros, ao menos nove ouviram Caetano em sua formação. Colocar essa nova MPB pra cantar prova, ainda, que as músicas de Caetano nunca deixaram de ser atuais e pertinentes. Coisa de artista de qualidade: nunca morrem nem perdem a validade. Claro que, para completar a beleza do disco, vale ressaltar que, sem o talento desses jovens músicos, ele não teria dado certo. A versão para "Eclipse Oculto" de Céu é uma delícia de ouvir, Momo esbanja sentimento em "Alguém Cantando", além das versões de The Magic Number e Tulipa Ruiz, pra não prolongar demais. Na minha humilde opinião, Caetano deve ter ficado feliz com o tributo, pois longe de ser tratado como relíquia da música, preso dentro de um vidro para uma simples admiração. Longe disso, suas músicas são mudadas, reinventadas e experimentadas. Como deve ser e como ele mesmo o faz.

Resenha escrita por Rafael Tavares.