Aposto uma pequena fortuna (que eu não tenho,
aliás) que alguns leitores do Esfinge estão coçando suas cabeças e pensando:
“Sério mesmo que ele vai falar bem de um disco de... Mariah Carey?” Ora
leitores, why not?
Só existem duas explicações plausíveis para MC ser
amada e odiada em igual medida desde os anos 90 e continuar no showbizz há mais
de duas décadas: ou ela é uma grande marqueteira, ou algum talento ela tem,
mesmo que hoje ele não seja tão vigoroso quanto fora antes. Eu prefiro
acreditar na segunda opção.
Quem prestar atenção na voz de Mariah em suas
primeiras gravações ouvirá algo que dificilmente se encontrará em outra
cantora: vozeirão daquele, poucas tiveram. Além é claro, de um talento para
levar para uma massa branca uma música genuinamente negra, lembrando que
estamos no contexto norte-americano, e lá a segregação racial é bem mais
latente e evidente do que em nosso país.
Infelizmente, Mariah não escapou ao passar do
tempo: sua voz já não é a mesma, o gosto do público também não e a cantora teve que
ceder à cartilha da mulher-objeto, de canções insinuantes, que obviamente não combinam
com seu perfil físico. Lembro-me de ouvir ou ler em algum lugar alguém dizendo
que ela não precisa mostrar tanto o corpo, ela tem voz, e com aquela voz, já
era suficiente.
Um dos fatores que (talvez) diminuíram sua credibilidade foi
sua excessiva "sexualização", mas também a perda de capacidade vocal. Nesse cenário –
que inclui uma série de discos fracos e desinteressantes –, Mariah acabou surpreendendo em 2005 com um The
Emancipation of Mimi, um álbum que não fugia à regra da mulher-gostosa, mas que
trazia algum frescor para esse contexto e que, pelo menos, não soava forçado.
Sua voz não está maravilhosa como já esteve, os
temas podem até ser repetidos, mas The Emancipation é gostoso de ouvir, soa
honesto e, digamos, menos vulgar (ou cafona). Carey se afasta levemente do
hip-hop, flerta com suas origens e faz gol. Stay the Night, One and Only e Joy
Ride foram feitas para ouvir no repeat. E até a “feita-pra-balada” It’s like That agrada.
Para aqueles que ainda rejeitam, odeiam e execram a
cantora, ouçam então o seu MTV Unplugged, que só peca em ser tão curtinho: na
gravação de 1992 sua voz está límpida e ela canta a plenos pulmões.
Deem uma chance a Mariah, se não vale respeita-la
pelo que canta – e como canta – hoje, não dá pra negar o que (e como) ela já cantou.
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